Apesar de ter tratamento e cura, a hanseníase ainda é motivo de preocupação no Brasil e no mundo devido aos desafios do diagnóstico precoce e do estigma que cerca os pacientes. O Brasil é um dos países que mais registram casos da doença, ficando atrás apenas da Índia. De acordo com o Ministério da Saúde, cerca de 30 mil casos são registrados por ano no país.
Janeiro registra dois marcos para a conscientização sobre a doença: o Dia Mundial da Hanseníase e o Dia Nacional de Combate e Prevenção da Hanseníase, celebrados no último domingo do mês. Ambas as iniciativas têm o objetivo de chamar a atenção para a importância do diagnóstico precoce, do acesso ao tratamento e do enfrentamento do preconceito.
“A hanseníase está no grupo de doenças que a Sociedade Brasileira de Dermatologia (SBD) classifica como doenças negligenciadas, que acometem a população, principalmente a população mais carente, e que muitas vezes as pessoas não lembram que existem”, afirma a dermatologista Paula Xavier Schiavon.
A hanseníase é uma doença infecciosa que afeta principalmente a pele e os nervos periféricos. Causada pela bactéria Mycobacterium leprae, tem a capacidade de infectar muitas pessoas, mas apenas uma pequena parcela desenvolve a enfermidade devido à resistência natural do organismo.
O principal desafio da hanseníase está na sua evolução silenciosa. Sem o tratamento adequado, pode levar a incapacidades físicas permanentes. No entanto, com o diagnóstico precoce e o acompanhamento médico, é possível evitar complicações e garantir a cura.
Os sintomas da hanseníase variam, mas os mais comuns incluem:
“É importante avaliar manchas na pele, alterações da coloração. Manchas mais claras ou manchas mais escuras, eventualmente, além de nódulos e alterações sensoriais, podem indicar o diagnóstico de hanseníase. Uma área de pele mais amortecida, uma área que a pessoa encosta e não sente o calor, ou que a pessoa arranha, cutuca e acaba machucando porque ela não teve sensibilidade naquele lugar”, alerta a dermatologista.
A transmissão da hanseníase ocorre principalmente por meio de gotículas eliminadas pela fala, tosse ou espirro de pessoas infectadas que ainda não estão em tratamento. É importante destacar que o contato casual não transmite a doença: a infecção ocorre apenas em caso de convívio próximo e prolongado.
Após o início do tratamento da hanseníase, a pessoa deixa de ser uma fonte de contágio, o que reforça a importância de buscar atendimento médico ao notar os primeiros sinais.
O diagnóstico precoce da hanseníase é essencial para prevenir as sequelas provocadas pela doença. Ele é feito com base em exames clínicos, como o dermatoneurológico, que avalia alterações na pele e nos nervos, além de testes de sensibilidade.
O tratamento, disponibilizado gratuitamente pelo Sistema Único de Saúde (SUS), é eficaz e consiste na poliquimioterapia, uma combinação de antibióticos que dura entre seis meses e um ano, dependendo da forma clínica da doença. É essencial seguir corretamente as orientações médicas para garantir a cura.
Além disso, é importante que familiares e pessoas próximas a pacientes de hanseníase também sejam examinados, pois o diagnóstico precoce é a chave para interromper a cadeia de transmissão.
A hanseníase é uma doença curável, mas a luta contra ela vai além da questão médica. O preconceito e a desinformação ainda afastam muitos pacientes dos serviços de saúde. É por isso que a conscientização é um pilar fundamental para enfrentar o problema.
Ao menor sinal de manchas na pele com perda de sensibilidade ou outros sintomas mencionados, um posto de saúde deve ser procurado imediatamente. A hanseníase tem cura, e o tratamento correto garante a interrupção da transmissão, prevenindo complicações e devolvendo a qualidade de vida.
A dermatologista chama a atenção para a necessidade de um check-up dermatológico anual a fim de identificar manchas que possam ser sintomas de hanseníase ou até de câncer de pele.
“A consulta com dermatologista é muito importante, porque muitas vezes as manchas estão em locais escondidos e que a própria pessoa acaba não reparando. É muito bacana incluir um check-up dermatológico num exame de rotina anual, como é para as mulheres, por exemplo, a consulta com ginecologista”, orienta Paula.
Médica dermatologista em Curitiba, formada pela Universidade Federal do Paraná e membro da Sociedade Brasileira de Dermatologia e Sociedade Brasileira de Cirurgia Dermatológica. CRM 17561.