Silenciosa e negligenciada, a doença de Chagas ainda representa um sério problema de saúde pública no Brasil e em outros países da América Latina. Conversamos com a professora Marina Rodrigues, do curso de Medicina da Universidade Feevale, que explicou os principais aspectos da doença, da prevenção ao tratamento.
A doença de Chagas se divide em duas fases: aguda e crônica. Na fase aguda, os sintomas podem ser tão sutis que muitas vezes não despertam a atenção do paciente. A maior parte dos casos são assintomáticos ou pouco sintomáticos. Os principais sintomas são:
“Também podem surgir manchas na pele, inchaço e aumento dos gânglios”, destaca a professora de Medicina.
Já na fase crônica, o quadro também tende a ser silencioso por muitos anos. “Porém, cerca de 10% a 30% das pessoas evoluem para formas cardíacas, digestivas ou uma combinação das duas. Na forma cardíaca, há comprometimento do músculo do coração, levando à insuficiência cardíaca. Na forma digestiva, o esôfago e o intestino grosso podem ser afetados, com aumento dessas estruturas e alterações na motilidade”, explica Marina.
Evitar a transmissão da doença continua sendo um dos maiores desafios. Como a principal forma de contágio se dá pela picada do barbeiro, o controle do vetor é essencial. “São indicadas melhorias nas moradias, manejo ambiental e vigilância dos reservatórios.
Outra via de transmissão é a ingestão de alimentos contaminados. “Nesse caso, reforçamos a importância da higienização correta dos alimentos antes do consumo”, acrescenta.
“O Benznidazol pode causar reações em até metade dos pacientes, como formigamento, dores nas articulações, náuseas, vômitos e lesões na pele”, relata Marina.
Nos casos crônicos, especialmente em adultos acima dos 50 anos, a decisão pelo tratamento deve ser cuidadosamente discutida com o paciente. “É uma decisão que precisa considerar os benefícios e os possíveis efeitos colaterais.
Identificar a infecção o quanto antes pode mudar completamente o prognóstico. “O tratamento é mais efetivo na fase aguda ou antes do surgimento das complicações”, afirma Marina. O diagnóstico pode ser feito por exames diretos de sangue na fase aguda e pela detecção de anticorpos na fase crônica. Dependendo dos sintomas, exames complementares para avaliar o coração e o sistema digestivo também são indicados.
A professora Marina destaca que os maiores entraves ao controle da doença são:
“É fundamental ampliar o sistema de vigilância, usar tecnologias mais modernas para diagnóstico, como os testes rápidos, e intensificar campanhas de triagem neonatal”, propõe.
Ela também enfatiza a importância de ações estruturais. “São necessárias melhorias habitacionais, uso de telas, campanhas educativas e apoio à pesquisa e desenvolvimento de novos medicamentos. A doença de Chagas não pode mais ser invisível”, finaliza.
Médica infectologista, professora de Medicina da Universidade Feevale, integrante do corpo clínico do Hospital São Lucas da PUCRS, em Porto Alegre, Hospital Regina e Hospital Unimed Vale dos Sinos, em Novo Hamburgo.