Aumenta o frio, baixa a imunidade. Essa gangorra, típica da estação mais fria, tem grande potencial para debilitar o organismo. Os efeitos tendem a ser ainda mais nocivos quando há mudanças bruscas de temperatura, o que tem se tornado cada vez mais comum no inverno do Sul do Brasil. O resultado é visto em forma de sintomas como espirros, coriza e nariz congestionado.
Isso ocorre porque a umidade característica da época faz com que proliferem os fungos, bactérias e ácaros, responsáveis pela exacerbação dos quadros alérgicos. E como esta também é a época em que passamos mais tempo em espaços fechados, os contágios por gripes e doenças típicas do inverno se multiplicam.
"O nosso organismo tem dificuldade de se adaptar às mudanças bruscas de temperatura. Pode acontecer de num dia, estar 30ºC, no outro dia, 10ºC. As vias aéreas ficam muito irritadas. É normal ter coriza, pois a mucosa da via aérea não consegue se adaptar. E os alérgicos, que têm a mucosa ainda mais sensível, são especialmente afetados. É uma situação que pode desencadear sintomas parecidos a uma crise de rinite", explica a imunologista e alergista Luciane Failace.
Esses desconfortos parecem estar sendo vivenciados de maneira mais intensa este ano. Nos consultórios médicos, têm sido comuns os relatos sobre sintomas duradouros de doenças típicas do inverno. Um dos motivos pode ser o relaxamento no uso de máscaras protetoras, como conta a médica:
"Ficamos dois anos recolhidos e usando máscara. Parece que nosso sistema imunológico ficou desacostumado. Viroses e pigarros que antes duravam dois, três dias, se tornaram mais graves. As viroses estão atingindo crianças e adultos em proporções mais intensas, e há uma potencialização de viroses fora de época".
Mas é possível se proteger? Como preparar o corpo para as mudanças bruscas de temperatura? A imunologista aponta cuidados específicos que devem ser seguidos à risca nestes meses:
Ainda que qualquer um possa ser afetado pelo frio e pelas oscilações de temperatura típicas do inverno, pessoas alérgicas precisam tomar cuidados adicionais. "Sao pacientes que já tem uma irritação de fundo alérgico da via aérea. Então, a suscetibilidade é ainda maior. São pessoas que vão manifestar mais sintomas quando muda a temperatura", diz a doutora Luciane.
Não há motivos, porém, para passar dias ou até semanas com desconforto corporal. Há opções de tratamentos preventivos para os sintomas respiratórios. Quem sofre de rinite, por exemplo, deve procurar tratamento com sprays nasais ou antialérgicos recomendados pelo médico. A doutora explica que crises eventuais requerem tratamento específicos, com prazo determinado. Quando os sinais perduram, porém, é necessário investigar o caso.
A saúde do nosso corpo está relacionadas às condições dos ambientes em que vivemos. Por disso, a doutora destaca a importância dos cuidados de higiene ambiental. Um hábito que se torna mais difícil nos dias frios - justamente quando é fundamental para para proteger o corpo:
"Quando se soma a mudança de temperatura às alergias, a gente já sabe que vai desencadear a crise. O que vale para o alérgico vale também para o não alérgico: são cuidados de higiene que deveríamos ter de maneira mais corriqueira", diz a médica.
Com a profusão de aplicativos e notícias sobre a previsão do tempo, a dica é: ao ser informado sobre uma sequência de dias úmidos e frios, programe-se para colocar a máquina de lavar em funcionamento. Assim, você aguarda o frio com as roupas higienizadas. E não esqueça de usar máscara para manusear casacos e roupas de lã
armazenados no guarda-roupa.
"Precisamos ter o hábito de lavar agasalhos, por exemplo, . Imagina o acúmulo de ácaros em casacos guardados no armário por muito tempo. Após uma sequência de dias úmidos, o mofo se torna perceptível em sapatos e casacos de couro. Ele também está presente em cobertores e roupas de lã, ainda que a gente não enxergue", explica a médica..
Além das roupas pessoais e de cama, a parte interna do nariz também precisa de higienização frequente. Muitas vezes, quem sofre de alergia costuma fungar, transportando para o seio da face secreções que precisam ser expelidas. Esse é um dos erros mais comuns dos alérgicos durante o inverno.
Nos dias em que estiver com coriza, assoe o nariz e faça uma lavagem com soro fisiológico. A higienização pode ser feita com:
Além disso, considere que pigarrear e fungar são sintomas que devem ser eventuais. Não é natural que o quadro se estenda por mais de 15 dias, ou por todo o inverno.
"Costumo receber, no consultório, crianças e adolescentes que acham normal fungar e tossir ao longo do inverno. No Sul, muitos pacientes precisam de tratamento preventivo nos meses frios, e no verão, só conforme demanda, pois as crises se tornam muito mais raras. Não é normal pensar que os sintomas persistentes ao longo do inverno são aceitáveis, pois há tratamento", explica a doutora.
Seguindo estes cuidados, haverá mais possibilidade de passar o inverno saudável, sem desconfortos ou limitações respiratórias.